3 Destinos turísticos brasileiros à espera de voos comerciais


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A aviação regional brasileira tem a oportunidade de explorar novos horizontes atendendo destinos turísticos promissores que hoje permanecem fora da malha aérea comercial. Neste artigo, apresentamos três destinos turísticos no Brasil – um no Norte, um no Nordeste e um no Sudeste – que ainda não contam com voos comerciais regulares, mas reúnem condições favoráveis para operações de pequenas companhias aéreas. São locais com infraestrutura aeroportuária básica já existente, demanda turística latente ou em crescimento, e viabilidade para operação de aeronaves regionais em rotas ponto a ponto. A seguir, detalhamos cada destino, abordando suas atrações, a situação dos aeródromos, o perfil de visitantes, justificativas de mercado e considerações estratégicas para implantação de rotas aéreas regionais.

Norte – Soure (Ilha de Marajó, PA)

Localização e atrativos turísticos: Soure é um município na Ilha de Marajó, no Pará, parte do maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo. A região é conhecida por sua natureza exuberante, que combina praias de rio e mar, manguezais, campos alagados e uma fauna singular (como os búfalos marajoaras). Entre os atrativos de Soure estão as praias do Pesqueiro e Barra Velha, além da rica cultura marajoara, expressa na cerâmica artesanal e na culinária local. Nos últimos anos, Marajó tem ganhado destaque nos roteiros ecoturísticos do Pará – um estudo da Secretaria de Turismo (Setur) apontou Belém, Soure e Salvaterra (Marajó) entre os destinos mais procurados no estado em 2023. Esse interesse crescente sugere uma demanda turística latente que poderia ser melhor atendida com acesso aéreo facilitado.

Infraestrutura aeroportuária: Soure dispõe de um aeródromo público com infraestrutura básica já instalada. O Aeroporto de Soure (SFK / SNSW) possui uma pista asfaltada de 1.100 metros por 30 metros (elev. 13m) habilitada para operações diurnas e visuais. Atualmente, é classificado como aeródromo civil público para aviação geral – isto é, recebe aeronaves particulares e táxi-aéreo, mas não conta com voos comerciais regulares. A distância aérea até Belém é de apenas ~76 km, o que equivale a um voo de cerca de 20 minutos. No entanto, sem ligação aérea, o acesso dos turistas se dá via ferry-boat e estradas: quem desembarca em Belém precisa se deslocar até o porto e encarar 3,5 horas de travessia fluvial até Marajó. Essa logística longa e dependente de horários de balsas limita o fluxo turístico. O Governo Federal já reconheceu a importância de melhorar a conectividade: há projetos anunciados para ampliar a pista de pouso de Soure e modernizar trapiches na ilha, visando integrar Marajó ao restante do país. Uma pista maior e melhor equipada poderia permitir operações de aeronaves regionais com mais segurança e regularidade.

Demanda turística e perfil do público: O turismo em Marajó tem forte apelo de natureza e cultura, atraindo tanto viajantes aventureiros brasileiros quanto estrangeiros em busca de ecoturismo. Com a visibilidade da Amazônia e a promoção do programa Abrace o Marajó, o número de visitantes vem crescendo. Ainda que os volumes absolutos sejam modestos comparados a destinos de massa, o Marajó aparece nas estatísticas recentes como um dos focos de crescimento do turismo paraense. A maioria dos turistas hoje são brasileiros de outras partes do país, interessados em praias tranquilas, observação da fauna (como guarás e búfalos), e experiências autênticas como passeios em fazendas e comunidades ribeirinhas. Com Belém sediando a COP30 em 2025, espera-se um aumento de visibilidade internacional da região. A combinação de belezas naturais únicas e dificuldade de acesso atual indica uma demanda reprimida – muitos viajantes deixam de visitar Marajó pela complexidade do deslocamento.

Viabilidade de rota aérea regional: Uma rota aérea regular ligando Belém a Soure seria curta e operacionalmente simples, porém de grande impacto. Voos regionais em aeronaves pequenas (9 a 30 assentos) poderiam reduzir a viagem de 4-5 horas (entre traslados e balsa) para apenas 20-30 minutos, tornando viável até passeios de fim de semana. Para uma companhia aérea de pequeno porte, um atrativo é a procura sazonal consistente – nos meses de verão amazônico e férias, a ilha recebe a maior parte dos turistas, o que alinharia com operações sazonais ou frequências reforçadas nessas épocas. Além de Belém, outra oportunidade pode ser conectar Soure a Macapá (AP) ou Santarém (PA) em rotas triangulares, capitalizando fluxos regionais. A pista de 1.100 m comporta com folga aviões como Cessna Grand Caravan ou similar, e com ampliação poderia receber até turboélices de 40-50 lugares. Do ponto de vista de mercado, pacotes integrados poderiam ser desenvolvidos, por exemplo, incluindo voos + hospedagem, em parceria com pousadas locais, para garantir ocupação mínima nas aeronaves. A título de comparação, destinos insulares de porte similar (como Morro de São Paulo, na Bahia, ou Fernando de Noronha em seus primórdios) ganharam muito em demanda quando passaram a ter ligação aérea.

Considerações: Para operar em Soure, alguns desafios devem ser levados em conta. Primeiro, a questão regulatória e de infraestrutura: será necessário garantir que o aeródromo esteja homologado para voos comerciais regulares, cumprindo requisitos de segurança, sinalização e serviços de emergência. O histórico de Soure mostra descredenciamentos temporários por falta de adequações, o que reforça a importância de investimento contínuo. Segundo, a estratégia comercial: a companhia que inaugurar a rota precisará estimular a demanda localmente, talvez com tarifas promocionais de lançamento, dadas as viagens tradicionalmente serem por ferry (de custo bem menor). No entanto, muitos turistas de maior poder aquisitivo estariam dispostos a pagar pela conveniência e segurança do voo. É recomendável sincronizar horários de voos com as conexões em Belém (voos chegando de outras capitais) para captar turistas nacionais e internacionais que podem incluir Marajó em seus roteiros. Além disso, uma forte parceria com operadores de turismo e divulgação do destino em feiras e mídias será essencial – mostrando que Marajó está “mais perto” graças à nova rota. Com planejamento cuidadoso, Soure tem tudo para se tornar um case de sucesso da aviação regional na Amazônia, integrando desenvolvimento local e conservação ambiental com transporte aéreo sustentável.

Nordeste – Barreirinhas (Lençóis Maranhenses, MA)

Barreirinhas, no Maranhão, é conhecida como a “porta de entrada” do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses – um dos cenários naturais mais espetaculares do Brasil. O destino oferece um deserto de dunas brancas pontuado por lagoas de água doce cristalina, paisagens que atraem turistas do mundo inteiro. Apesar da fama, Barreirinhas ainda não possui voos regulares de linha aérea. Até pouco tempo atrás, a viagem aérea mais próxima encerrava-se em São Luís (capital maranhense), seguida de um longo trajeto terrestre. Isso começou a mudar quando seu pequeno aeroporto local passou a receber voos comerciais esporádicos, mostrando que existe potencial de viabilidade para rotas regionais.

Localização e atrativos turísticos: Barreirinhas situa-se a cerca de 250 km de São Luís, servindo de base para explorar o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Os Lençóis são um grande atrativo turístico do Nordeste, figurando entre os parques nacionais mais visitados da região. Em 2024, o parque recebeu 440.028 visitantes, consolidando-se como o terceiro parque mais visitado do Nordeste (atrás apenas de Jericoacoara e Fernando de Noronha).

O perfil de visitantes: Mochileiros brasileiros, famílias em excursões, estrangeiros em busca de ecoturismo e fotógrafos atraídos pela paisagem única das dunas e lagoas sazonais. A infraestrutura turística em Barreirinhas tem crescido – há hotéis, pousadas, restaurantes e operadores locais oferecendo passeios de 4x4 e voadeiras pelo Rio Preguiças. Contudo, o acesso permanece um gargalo: por via terrestre, são 4 a 5 horas de viagem desde São Luís em estrada parcialmente sinuosa. Isso faz com que muitos turistas restrinjam a visita aos Lençóis ou optem por pacotes longos que combinem vários destinos para justificar o deslocamento.

Situação atual da infraestrutura aeroportuária: Barreirinhas possui o Aeroporto Municipal (SSRS), localizado a 1 km do centro da cidade. A infraestrutura é bastante favorável para padrões regionais: pista asfaltada de 1.560 metros x 30 m, altitude quase ao nível do mar, permitindo operações visuais diurnas. Esse comprimento de pista comporta aeronaves de pequeno e médio porte – de monomotores Cessna até turboélices regionais como Cessna Caravan, Bandeirante, ou até um ATR-42, com restrições. Nos últimos anos, a Azul Conecta (subsidiária regional da Azul Linhas Aéreas) chegou a operar voos regulares temporários em Barreirinhas, conectando o destino com São Luís, Parnaíba (Delta do Parnaíba) e Jericoacoara, no que ficou conhecido como a Rota das Emoções. Esses voos, operados por Cessna Grand Caravan de 9 lugares, funcionaram em 2020-2021, porém foram descontinuados posteriormente. Atualmente, o aeroporto recebe apenas voos particulares e fretamentos. Ou seja, não há linha aérea regular no momento, apesar da infraestrutura pronta e homologada. A experiência com a Azul Conecta demonstrou demanda inicial e viabilidade operacional, mas também indicou a necessidade de maior promoção para manter a regularidade fora da alta temporada.

Demanda turística e perfil de público: Como dissemos, o fluxo turístico aos Lençóis Maranhenses é relativamente bem estabelecido, com picos na época seca (maio a setembro, quando as lagoas estão cheias) e um público majoritariamente doméstico, seguido de estrangeiros (muitos europeus) no auge da estação. Em 2021, mesmo após impacto da pandemia, o parque contabilizou mais de 280 mil visitas, e os números têm crescido a cada ano, atingindo o patamar de mais de 400 mil visitantes, recentemente. Esse volume expressivo de visitantes contrasta com a falta de voos comerciais: virtualmente todos chegam por via terrestre (carros, vans, ônibus de turismo). Isso sugere que parte desses turistas optaria por voar se houvesse a opção – especialmente grupos de maior poder aquisitivo, viagens de incentivo, ou estrangeiros com tempo limitado. Além disso, com a promoção da “Rota das Emoções” (circuito integrado Lençóis–Delta–Jericoacoara) a nível nacional, há um apelo em conectar os três destinos por via aérea. O perfil do turista nos Lençóis busca natureza intocada, mas também valoriza comodidade: muitos estariam dispostos a pagar um valor adicional razoável para poupar horas de estrada em troca de um voo panorâmico de 45 minutos.

Justificativa para viabilidade de rota aérea: A viabilidade de voos regionais para Barreirinhas baseia-se em três pilares: (1) Alto apelo turístico do destino, comprovado pelos números de visitação e pelo reconhecimento nacional/internacional do parque; (2) Redução dramática no tempo de viagem – um voo de São Luís a Barreirinhas duraria cerca de 30 minutos, contra 4 horas via terrestre, melhorando enormemente a acessibilidade; e (3) Infraestrutura pronta e subutilizada, evitando grandes investimentos iniciais. Uma operação aérea poderia ser estruturada de diferentes formas: voos diretos a partir de São Luís (principal hub de entrada no Maranhão) e/ou voos circulares ligando Barreirinhas a Parnaíba (PI) e Jericoacoara (CE), formando um circuito turístico. Essa última opção atende um segmento de turistas que quer conhecer os três destinos litorâneos no mesmo roteiro – atualmente alguns operadores vendem pacotes por terra, mas a viagem é longa. Um pequeno avião encurtaria distâncias (ex.: Barreirinhas–Jericoacoara em ~1 hora de voo). Para Barreirinhas, uma parceria público-privada pode melhorar as chances de sucesso – por exemplo, o governo do Maranhão ou entidades como Embratur poderiam auxiliar na promoção e, se necessário, concessão de incentivos (redução de ICMS sobre combustível, etc.) para viabilizar a rota nos primeiros anos.

Considerações : Alguns fatores devem ser tratados pelo operador aéreo interessado. Primeiramente, a sazonalidade: o movimento em Barreirinhas varia conforme a época das chuvas. Seria prudente ajustar frequências de voo conforme a estação (por exemplo, voos diários ou quase diários na alta temporada, reduzindo para 2-3 semanais na baixa). Em segundo lugar, a integração logística: o passageiro que voa até Barreirinhas ainda precisará de transporte local para os passeios (jipes para entrar nas dunas, etc.), então parcerias com agências e hotéis para transfers e pacotes completos agregam valor. Também é importante ter um plano de contingência para condições meteorológicas adversas, já que a operação é visual diurna – chuvas fortes ou falta de balizamento noturno podem afetar horários, e a comunicação clara com passageiros será fundamental. Por fim, deve-se manter diálogo com as comunidades locais: a chegada de voos pode impulsionar bastante a economia (mais turistas, estadias mais longas, empregos), mas é preciso garantir que o crescimento seja sustentável e não prejudique o frágil ecossistema dos Lençóis. Com planejamento adequado, Barreirinhas tem potencial para se tornar um hub turístico regional, distribuindo visitantes pelos tesouros naturais do Maranhão e adjacências através da aviação local.

Sudeste – Armação dos Búzios (RJ)

No Sudeste, poucos acreditam que um destino do calibre de Búzios – glamour internacional, quase 1 milhão de turistas ao ano – não possua voos comerciais diretos. Esse charmoso balneário na Região dos Lagos do Rio de Janeiro é altamente demandado por visitantes nacionais e estrangeiros, mas depende de transporte rodoviário a partir do Rio ou de aeroportos regionais próximos. O Aeroporto Umberto Modiano (Búzios) existe desde 2003, porém funciona apenas para aviação geral, sem voos de carreira. Com o crescimento do turismo de luxo e o aumento de visitantes estrangeiros pós-pandemia, Búzios desponta como um candidato natural para novas rotas regionais, principalmente conectando grandes centros emissores como São Paulo e Belo Horizonte.

Localização e atrativos turísticos: Armação dos Búzios está situada a cerca de 170 km da cidade do Rio de Janeiro, numa península rodeada de praias paradisíacas. O município ganhou fama internacional nos anos 1960 graças à atriz Brigitte Bardot, e desde então consolidou-se como um dos balneários mais procurados do Brasil, conhecido como “Saint-Tropez brasileira”. Com mais de 20 praias de águas claras (Geribá, João Fernandes, Ferradura, entre outras) e uma animada vida noturna e gastronômica na Rua das Pedras, Búzios atrai tanto a classe alta brasileira quanto muitos argentinos, europeus e norte-americanos. Em 2023, mesmo sem aeroporto comercial, quase 1 milhão de turistas visitaram Búzios – foram 671.819 visitantes nacionais e 320.320 estrangeiros registrados, além de 95 escalas de navios de cruzeiro na temporada 2023/2024. Esses números impressionantes reforçam a reputação do destino e indicam um mercado estabelecido. O acesso atualmente se dá via rodovia (traslados de 2h30 a 3h a partir do Rio) ou via Aeroporto de Cabo Frio (a 30 km, que recebe alguns voos sazonais de São Paulo e Buenos Aires). Ainda assim, nenhum voo regular pousa diretamente em Búzios, o que é visto como uma oportunidade perdida para agilizar a chegada de turistas premium que prefeririam voar diretamente para o destino.

Infraestrutura aeroportuária atual: O Aeroporto Umberto Modiano (SSBZ) em Búzios é um aeródromo privado, hoje aberto apenas a aviação executiva e táxi aéreo. Ele dispõe de pista de 1.300 metros x 30 metros em asfalto, com balizamento noturno e operação visual diurna (VFR) e condições IFR diurna/noturna para aviões leves. Sua capacidade é voltada a aeronaves de pequeno porte – jatos executivos leves, turboélices regionais até 20 lugares, helicópteros. O aeroporto passou por momentos conturbados: em 2012, a ANAC fechou o local devido a condições precárias, ressaltando que não era homologado para voos comerciais regulares por ser registro privado. Após melhorias, reabriu em 2014 para aviação geral e desde então recebe uma média de 50 a 80 operações mensais (variando conforme a época) de aeronaves particulares e táxis aéreos. Ou seja, a infraestrutura está subutilizada, porém apta a receber voos não-regulares. Experiências com voos comerciais já ocorreram: no verão de 2020/2021, a Azul Conecta operou uma temporada de voos fretados de linha partindo do Rio de Janeiro (Aeroporto Santos Dumont) e de Belo Horizonte diretamente para Búzios. Esses voos, realizados com Cessna Caravans de 9 lugares, tiveram frequência limitada entre dezembro e janeiro, indicando que há demanda ao menos na alta temporada para esse tipo de ligação aérea. Apesar disso, nenhuma operação permanente foi estabelecida até agora – em parte devido a questões regulatórias (por ser aeródromo privado, precisaria de convênio ou autorização especial para linha aérea) e em parte pelo perfil de mercado, tradicionalmente atendido por transporte terrestre de massa.

Demanda turística e perfil de público: Búzios apresenta um perfil de visitantes bastante diverso, com forte presença do segmento “sol e praia” de alto padrão. Segundo dados do Conselho de Turismo da Costa do Sol, em 2023 cerca de 320 mil turistas estrangeiros passaram pela cidade, muitos vindos da Argentina e outros países da América do Sul. O turismo internacional responde a quase 1/3 do total de visitantes, algo raro em destinos brasileiros, tornando Búzios bastante cosmopolita. Esses estrangeiros em geral chegam via aeroportos do Rio e seguem de van ou carro até Búzios. Já os turistas nacionais (670 mil em 2023) vêm sobretudo de São Paulo, Minas Gerais e do próprio Rio de Janeiro, seja em veículos próprios, ônibus de excursão ou voos até o Galeão/Santos Dumont seguidos de traslado terrestre. Nos últimos anos, observou-se um retorno do turismo de luxo: hóspedes de altíssimo padrão (classe A) voltando a investir em casas e hotéis de luxo em Búzios, após um período em que destinos como Florianópolis e litoral paulista concorreram nessa fatia. Para esse público exigente, o tempo é um recurso valioso – muitos optariam por um voo particular ou de linha premium para evitar as quase 3 horas de estrada desde o Rio. Além disso, há o nicho dos fretamentos internacionais: historicamente, operadoras argentinas já fretaram voos charter diretos a Cabo Frio para atender a demanda de verão em Búzios. Com um aeroporto local disponível, existe potencial para voos sazonais diretos de Buenos Aires ou Córdoba em aeronaves médias (provavelmente de pequeno porte devido à pista), o que agregaria ainda mais turistas estrangeiros.

Potencial de viabilidade para operações regionais: Vários indicadores mostram que Búzios é um forte candidato a receber voos regionais regulares. Em primeiro lugar, a massa crítica de passageiros já existe – mesmo se apenas uma fração dos quase 1 milhão de turistas optasse pelo modal aéreo, já seria suficiente para encher aeronaves de pequeno porte em frequências diárias. Em segundo, a infraestrutura do aeroporto, embora limitada, comporta as aeronaves ideais para o perfil da rota: aviões como o Cessna Caravan (9 assentos) ou o Embraer EMB-110 Bandeirante (18 assentos) podem operar com segurança na pista de 1300 m, conectando Búzios a SDU (Rio) ou GRU/CGH (São Paulo) em aproximadamente 1 hora de voo. Em terceiro lugar, há sinergias possíveis com a malha existente: por exemplo, uma companhia poderia fazer a triangulação São Paulo – Búzios – Belo Horizonte ou Rio – Búzios – São Paulo, atendendo dois mercados emissores num mesmo esquema de rota circular. Isso otimiza a utilização da aeronave e amplia a base de passageiros. Cabe lembrar que durante o teste da Azul Conecta, os voos BHZ–Búzios tiveram procura, demonstrando a viabilidade de ligar Minas Gerais ao litoral fluminense para turismo de praia. Outro aspecto é o mercado de segunda residência e eventos: Búzios recebe muitos eventos (casamentos, convenções) e tem grande comunidade de proprietários de casas de veraneio de São Paulo/MG; esse público poderia alimentar voos regulares de fim de semana, por exemplo.

Considerações: Implantar voos comerciais em Búzios requer superar alguns desafios estratégicos. O primeiro é regulatório e administrativo: como o aeroporto é privado, seria necessário um acordo entre o operador do aeródromo e as autoridades para permitir voos regulares de passageiros (isso pode envolver uma mudança de categoria do aeroporto ou operação sob regime de fretamento recorrente enquanto não se torna público). A prefeitura local e o trade turístico têm interesse em viabilizar essa expansão aérea, portanto alianças institucionais serão valiosas. O segundo desafio é a concorrência do transporte terrestre: embora o voo seja muito mais rápido e confortável, seu preço será naturalmente mais alto que o de um traslado de van ou carro. Para convencer o turista médio (além do nicho de luxo), as empresas aéreas podem adotar estratégias como tarifas promocionais de lançamento, programas de milhagem, ou venda de assentos em conjunto com hotéis de luxo que agreguem valor ao pacote. Também vale explorar o conceito de shuttle executivo – por exemplo, voos às sextas e domingos focados em viajantes de fim de semana, que poderiam substituir as longas filas de carros na estrada por um voo de 30 minutos. Por fim, é essencial comunicar o ganho de conveniência e exclusividade: voar direto para Búzios agrega à experiência do viajante a sensação de exclusividade e ganho de tempo, algo alinhado com a imagem do destino. Se bem-sucedida, a operação em Búzios pode abrir caminho para outros balneários do Sudeste pouco servidos pela aviação (como Paraty ou Ubatuba) e demonstrar que, mesmo em regiões com boa malha rodoviária, a aviação regional pode agregar valor e desenvolver mercados específicos.

Considerações

Os três casos apresentados – Soure no Pará, Barreirinhas no Maranhão e Búzios no Rio de Janeiro – ilustram um amplo leque de oportunidades para a aviação regional brasileira. Cada destino combina atrativos turísticos de destaque com carências de conectividade aérea, cenário em que pequenos operadores podem florescer preenchendo essas lacunas. Em comum, há uma infraestrutura pronta ou quase pronta (aeródromos já existentes, apenas aguardando maior utilização) e uma demanda turística real que tende a crescer quando o acesso se torna mais fácil.

Evidentemente, desafios existem: é preciso planejamento para equilibrar sazonalidade, ajustar modelos de aeronave e garantir viabilidade financeira. No entanto, as tendências recentes – como o aumento do turismo interno, a busca por destinos de natureza e o interesse de investidores em novos mercados regionais – sinalizam que o momento é favorável. Para investidores e gestores de companhias aéreas regionais, explorar essas rotas “adormecidas” pode significar ganhos de first-mover (vantagem do pioneiro) e construção de marcas fortemente associadas ao desenvolvimento local. Já para as regiões atendidas, a chegada de voos representa impulso econômico, com geração de empregos, ampliação da temporada turística e maior integração com outras partes do Brasil. Em última instância, o fortalecimento da aviação regional é também um passo rumo à descentralização do transporte aéreo, tirando a pressão dos grandes hubs e espalhando os benefícios do turismo e dos negócios pelo interior do país.

Em resumo, é hora de alçar voo rumo a novos destinos. Seja sobrevoando as verdes águas do Marajó, as dunas brancas dos Lençóis Maranhenses ou as enseadas azuis de Búzios, a aviação regional pode – e deve – ser protagonista na próxima fase de crescimento do turismo brasileiro. Fica o incentivo para que empresas aéreas, governos locais e investidores unam esforços e apostem nessas rotas emergentes. Assim, ganharão os viajantes, que descobrem com mais facilidade as maravilhas do nosso país, e ganha o Brasil, com uma aviação regional mais forte, integrada e cheia de novas oportunidades no horizonte.


Referências Bibliográficas 
Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Cadastro de Aeródromos Civis - Aeroporto de Barreirinhas (MA). Disponível em: https://www.anac.gov.br. Acesso em: jun. 2025.
Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Cadastro de Aeródromos Civis - Aeroporto de Búzios (RJ). Disponível em: https://www.anac.gov.br. Acesso em: jun. 2025.
Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Cadastro de Aeródromos Civis - Aeroporto de Soure (PA). Disponível em: https://www.anac.gov.br. Acesso em: jun. 2025.
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Relatório Anual de Visitação 2024 - Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Brasília: ICMBio, 2025. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br. Acesso em: jun. 2025.
Ministério do Turismo. Dados do turismo nacional - Búzios (RJ). Disponível em: https://www.gov.br/turismo. Acesso em: jun. 2025.
Ministério do Turismo. Dados do turismo nacional - Ilha de Marajó (PA). Disponível em: https://www.gov.br/turismo. Acesso em: jun. 2025.
Prefeitura Municipal de Búzios. Informações Turísticas e Econômicas de Armação dos Búzios - 2023. Disponível em: https://www.buzios.rj.gov.br. Acesso em: jun. 2025.
Secretaria de Estado de Turismo do Maranhão (Setur-MA). Estatísticas do Turismo - Lençóis Maranhenses. Disponível em: https://www.turismo.ma.gov.br. Acesso em: jun. 2025.
Secretaria de Estado de Turismo do Pará (Setur-PA). Plano de Desenvolvimento Turístico do Arquipélago do Marajó. Belém: Setur-PA, 2024. Disponível em: https://www.setur.pa.gov.br. Acesso em: jun. 2025.

Sobre o autor: 
Antônio Lourenço Guimarães de Jesus Paiva 
Pai da Helena
Diretor da Flylines 
Graduado em Aviação Civil pela Universidade Anhembi Morumbi
Especialista em Planejamento e Gestão Aeroportuária pela Universidade Anhembi Morumbi
Especialista em Gestão de Marketing pela Universidade de São Paulo
Especialista em Data Science e Analytics pela Universidade de São Paulo
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